Velho chápeu...
Acabo de chegar da padaria
Um café expresso, fui tomar
Se soubesse o que eu veria
Eu nem poderia imaginar...
Encontrei um senhorzinho
Desses que ainda usa chapéu
Estava ele todo alinhadinho
Dizia para se proteger do céu
Ensinava a todos que passavam
Que aquele chapéu ele tirava
Para os que o cumprimentavam
Em qualquer esquina que encontrava
Mas o dito cujo outras vezes ele extraia
Sempre na frente de qualquer igreja
E uma respeitosa reverência ele fazia
Sem que quase ninguém veja
E para toda mulher que passava
Lá ia o velho chapéu às mãos
E com um aceno ele ocultava
Sua verdadeira intenção
Dizia ser vendedor de rua
Um bom papo ele possuía
Afirmava que a vida continua
E que cem anos ele viveria
E sem delongas o chapéu ele põe fora
Intrigou-me este seu procedimento
Pois não havia mulher naquela hora
Que merecesse tal cumprimento
Muito menos perto de igreja ele estava
Para repetir o agora conhecido gesto
Porém naquela reverência ele ficava
E isso eu vi de perto, eu atesto
Só não entendi de pronto que era para mim
Me dei conta quando o vi todo galanteador
Disse-me que também cumprimenta assim
Todo aquele que sabe ser “ouvidor”
Era um senhor de muita idade
Nele se encontra muita sabedoria
Há também muita verdade
Para quem extrai da vida alegria
Uma lição preciosa ele me ensinou
Que gente idosa só quer atenção
Minha admiração ele conquistou
Com aquele velho chapéu na mão