CANÇÃO BUCÓLICA
Grita forte o vento, que espanca o frágil vidro da janela indiferente
Corre a muda nuvem, que protege o passo estulto do ser desumano
Porque o medo da dor é bem pior que o sintoma do se estar doente
Porque o cristal do pudor se reflete na máscara avessa do profano!
Ruge de fome o predador, que sai à minha caça nas noites de meu suplício
Voa sem rumo o falcão, que perdeu as asas quando o calor de seu ninho lhe disse adeus
Porque a guilhotina está armada para decapitar a ação de meu sacrifício
Porque não importam quantos reinos tenham meus sonhos, eles sempre serão plebeus!
Foge apressada a noite, que se recusa ao beijo que lhe convida o dia
Desce maldosa a chuva, que inutiliza as sementes de meu arado
Porque batem palmas árvores irônicas, para minha hostil agonia
Porque me desencaminha a hipocrisia desse meu inútil cajado!
Corre para si esse poeta, que derrama pétalas sobre o mar
Ele não quer respostas, ele despenca do verso que tanto o iludiu
Ele canta a sua dor, afim de que o cego amor, sua aflição venha enxergar
Ele é o show de todas as constelações, que sua estrela jamais assistiu!