QUANDO A TEMPESTADE PASSAR
(Sócrates Di Lima)
Sinto no peito uma dor insistente,
não sei se é física ou emocional,
Se física, estou retirante,
Se emocional, é a saudade letal.
Abro a janela da minha tarde,
Vejo que o céu ainda está nublado,
Está passando a tempestade,
Mas deixou rastro e efeito inacabado.
Na janela, debruço-me sobre o para-peitos,
Olhar cansado e molhado,
Resquícios da tempestade e seus efeitos,
Um corpo de coração machucado.
Culpado, sim,
De sair no meio da tormenta,
Arriscar-se, e por fim,
que a alma agora lamenta.
E chora...
No soluço da inquietude,
O que a tempestade levou embora,
Lá fora, nada restou de atitude.
E a tarde novamente troveja,
Raios nervosos riscam o céu,
Grita, esperneia, relampeja,
Descortina o coração, arranca-lhe o véu.
Mas, na alma, o silêncio esquartejado,
Mudas as vozes do pensamento,
Trovões ensurdecem o que poderia ser escutado,
Mas o silêncio intervem e faz o momento.
Dói o peito,
Uma dor sufocante,
Fazer o que? De que jeito!
Arrancar o coração delirante.
É a tempestade que ainda persiste,
A tormenta da alma não vai embora,
A ferida aberta não resiste,
E a alma chora....
Mas, que hora para essa tempestade chegar !
Insistente, percorre as veias da insatisfação,
Dobra as esquinas do desejo que não vai acabar,
E alcança toda a extensão do meu coração.
Da janela olho a imensidão,
Meus olhos já não têm o mesmo alcance,
Me pego ás portas da improvável solidão,
Pós tempestade, não quero nenhuma chance.
Não é lamento,
Nem choramingação,
São restos de sentimento,
Que ainda mora no meu coração.
Um novo tempo chega,
Não sei ao certo pra quê e nem porque querer,
E o que restou da tempestade me entrega,
A saudade da mulher que não quero esquecer...
....Quando a tempestade por fim, passar.