Novo demais
há um peso nos ombros
que não vem só dos anos,
mas de tudo que não fiz,
de tudo que fiz e estraguei.
sou novo demais pra aceitar
que o jogo terminou
e velho demais pra insistir
em mãos ruins.
a vida me ensinou truques,
mas agora, eles não impressionam ninguém.
os bares são os mesmos,
as conversas repetem um eco
de vozes que já não ouço.
há um tempo em que o desejo
grita mais alto do que a razão,
e um tempo em que o silêncio
te convida a deitar
e ficar ali,
vendo o teto envelhecer com você.
eu estou entre os dois.
não é arrependimento,
é cansaço de andar
e não chegar.
é medo de ficar
e ser esquecido.
a cidade corre lá fora,
mas aqui dentro,
o relógio tem preguiça de bater.
sou novo demais pra morrer,
mas velho demais pra querer viver
como os outros dizem que devo.
talvez seja isso:
nem tanto ao céu,
nem tanto ao inferno.
só mais uma noite,
com uma garrafa ao meio,
uma vida meia vazia
e um poema que
ninguém vai lembrar.