Novo demais

há um peso nos ombros

que não vem só dos anos,

mas de tudo que não fiz,

de tudo que fiz e estraguei.

sou novo demais pra aceitar

que o jogo terminou

e velho demais pra insistir

em mãos ruins.

a vida me ensinou truques,

mas agora, eles não impressionam ninguém.

os bares são os mesmos,

as conversas repetem um eco

de vozes que já não ouço.

há um tempo em que o desejo

grita mais alto do que a razão,

e um tempo em que o silêncio

te convida a deitar

e ficar ali,

vendo o teto envelhecer com você.

eu estou entre os dois.

não é arrependimento,

é cansaço de andar

e não chegar.

é medo de ficar

e ser esquecido.

a cidade corre lá fora,

mas aqui dentro,

o relógio tem preguiça de bater.

sou novo demais pra morrer,

mas velho demais pra querer viver

como os outros dizem que devo.

talvez seja isso:

nem tanto ao céu,

nem tanto ao inferno.

só mais uma noite,

com uma garrafa ao meio,

uma vida meia vazia

e um poema que

ninguém vai lembrar.

Trebe de Maria
Enviado por Trebe de Maria em 13/12/2024
Reeditado em 13/12/2024
Código do texto: T8218370
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