A Última Aurora!
Nas sombras frias da noite aveludada,
Sussurram os ventos memórias tardias,
Lágrimas em véus de prata, calada,
A lua sangrando em saudades vazias.
Oh, Morte, doce amante das almas,
Que em teu abraço finda-se a dor,
Teus lábios selam as ânsias mais calmas,
Beijando o coração, cessando o clamor.
Por que temer-te, se és libertação,
Se és o descanso na estrada deserta?
É nos teus braços que a paixão
Transforma a lágrima em paz desperta.
Venha, envolva-me em teu manto escuro,
Onde o tempo não se atreve a passar,
Pois nos teus olhos eu vejo um futuro,
Onde o sofrer deixa de respirar.
No féretro de flores murchas repouso,
Deitado em silêncio, sem ânsia ou espanto,
E na eternidade encontro-me ditoso,
Enquanto a noite chora um canto.
Deixe-me ir contigo, ó dama tão fria,
Que na despedida há o doce alívio;
Na tua escuridão, nasce a poesia,
No teu adeus, o amor torna-se cativo.
Guinamax