muitas tristezas morrem numa sexta-feira

Nada tinha em mente

nesta noite

que os velhos pagãos

com seus disfarces impagáveis

e suas reputações sagradas

re-batizaram

nos tempos em que não havia balada

como sexta-feira

Até tomei um drink para afugentar o tédio

troquei algumas conversas imaturas

com alguns caras maduros,

saí de lá, troquei de reduto

parei num bar

para respirar o ar

fedendo a cigarro falsificado

e por meia dúzia de minutos

ainda tive que aturar

a saliva gasta

com mentiras desgastadas

dos machões que se acham

os maiores amantes da História

No fim das contas, lá pelas tantas, chamei o garçom e pedi minha conta. Enquanto isso, dois amantes daquela tribo sem estribos perderam as estribeiras quando descobriram que foram roubados pela mesma gatinha (de batom rosinha) que tinha uma joaninha tatuada nos pulsos.

Antes que as próximas horas me perdessem de vista, tomei o caminho de casa e me deparei com histórias copiadas das histórias que conheço desde a época em que a noite tinha tinta cheirando a passado.

Vi mergulhadores afogando as mágoas no mar etílico, lágrimas sinceras borrando sombras, carinhos verdadeiros bordados de enganos, mendigos balzaquianos escrevendo novelas em alfarrábios, beijos cinematográficos decorados de prazer regressivo, romances policiais protagonizados por bandidos e poemas marginais feitos pelas putas apaixonadas.

Enfim, depois de cruzar com tantas banalidades e felicidades, abri o portão, peguei o elevador, entrei em casa, afaguei a gata, abri a janela, desabei no sofá e antes do tédio me beijar, pensei em tudo que vi. Concluí que muitas tristezas morrem numa sexta-feira.

Enquanto o sono me envelhecia, o celular tocou. Acordei assustado e irritado. De início, recusei as chamadas. Mas a insistência foi tamanha que atendi disposto a xingar o sujeito.

Meu peito aqueceu quando sua voz apareceu dizendo que a saudade bateu. Você me surpreendeu dizendo que estava na estrada. A caminho do meu abraço. Na passagem das horas apaixonadas que virão.

E que só virão para minha casa por sua causa.

*Inspirado na obra "Os bares morrem numa quarta feira" de Paulo Mendes Campos

Barão do Subúrbio
Enviado por Barão do Subúrbio em 04/11/2024
Código do texto: T8189738
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