pavão
Eu acho que nunca aprendi a dizer Adeus.
E sei que você nunca aprendeu a me deixar ir.
Mas como poderia me deixar ir? Uma criança mimada, filho único, e de pais perfeitamente normais. Como poderia aprender a me dividir com o mundo? A deixar que meus cabelos balançem na direção que quiserem. A que minha boca falasse as melhores asneiras. Como poderia, você, um ser tão perfeito, mimado como uma mula que cresceu pensando que voar era possível, mas perfeito, aprender que jaulas e correntes não foram feitas para um ser livre.
O compromisso me desse a goela. Não a força. Me desse por vontade. Vontade do teu ser sólido, feito a rocha que teu signo carrega como o formato de um coração. As correntes machucam. Meu pescoço em braças, chamuscado e torturado, pede pra sair em uma grande agonia do meu próprio ser. A liberdade toca meus ouvidos, toda vez que seu amor é pronunciado, mas ao mesmo tempo, aquela fria e cortante, braça infernal queima minha alma implorando para que eu fique. Me prendendo ao sólido peso de um coração de pedra.
Já fui como um pássaro voando aos céus, mas comparar a minha liberdade com um bicho que vive a procura de um galho para se apoiar me dava náuseas. Já tentei ser como um lindo tubarão, vagando livre pela grande imensidão. Sozinho, mas com o toque gélido do mar em cada parte do meu corpo. Mas tubarões não costumam socializar, e meu bem, você sabe que mesmo a imensidão do mar, não se compara ao vazio que tenho dentro do meu ser. Acho que um Bode das montanhas, que vive perigosamente para chegar até uma linda vista, ou até mesmo um pavão, que lindo por si só, poderia ir a qualquer lugar, mas tem asas pequenas demais para voar, são formas melhores de descrever a liberdade.
Será que um pavão sente seu pescoço envolto por correntes quentes quando sonha em voar? Será que o bode tem medo de começar a escalar uma montanha? Será que eles sentem a mesma dor ardente que tuas palavras me causam quando tu me pede para ficar, mesmo sabendo que eu preciso, não, que eu quero ir.
Tu pediria para um pássaro, que muitos consideram livre, para não voar? Sim, pediria, ou cortaria suas asas.
Você pediria para um tubarão socializar? Sim, você o trancaria num tanque, não?!
Mas algum dia alguém pediu para um bode não escalar, ou para um pavão simplesmente deixar de ser como é?
Me pergunto se você deixaria o pavão voar se pudesse.