Trem das cinco

Pousa a xícara nos lábios,

Sorvendo com temperança,

O líquido âmbar nela abrigado,

Néctar quente de perfume singular,

Doce sabor acalentando a alma,

Traz conforto e memórias de outrém,

Tempos passados amarelados nas fotos,

De esperas em estações de comboios,

Saudades sem lugar em um peito arfante,

Aguardando o retorno de quem se foi,

No espasmo de um destino indefinido,

Quis que uma pena à nanquim volvesse,

Entremeando uma caligrafia rápida,

No verso de um postal marcando a data,

De uma chegada triunfante à tarde,

Antes do pôr do sol nas montanhas,

Enquanto lua e estrelas adormecem,

Trazendo colorido ao cinza dos dias,

Gerando ansiedade e curiosidade,

Pelo que foi e não é mais, sendo outro,

Na inquietação de uma taquicardia boa,

Olhando os dormentes dos trilhos,

Na expectativa da fumaça ao final deles,

No movimento da máquina de ferro,

Dragão da modernidade industrial,

Que traz vidas e novas histórias em seu âmago...