ESPAÇO EM BRANCO

Uma página branca, como a neve,

Ou como as areias do meu Rio Santa Maria,

Imensas e alvas, sempre iguais

A oferecerem a sua maciez aos pés

Do caminhante que partiu,

Se oferece para o poema que não vem,

Por que como o caminhante,

Das areias brancas do meu rio,

A inspiração também sumiu.

Mas do exílio voluntário,

Aonde chegou, para nunca mais voltar,

O caminhante, nas noites de luar,

Olhando no vazio da página,

Sonha com a alvura das areias

Emoldurando os contornos do seu rio...

Da mesma forma o pobre poeta,

Na amargura de não ter inspiração,

Se sente um prisioneiro, sem prisão,

Se sente um cego tendo a vista,

Ou aleijado tendo a mão,

E olhando a página a sua frente,

De virginal brancura,

treme de febre, quase de loucura,

E se lastima e sente pena,

De si próprio, e se lamenta,

E manda um grito, desesperado, para o universo,

Por lhe faltar a ideia - ferramenta-

para poder concluir um pobre poema,

Ou, pelo menos, escrever um verso.

ERNER MACHADO
Enviado por ERNER MACHADO em 04/10/2024
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