ESPAÇO EM BRANCO
Uma página branca, como a neve,
Ou como as areias do meu Rio Santa Maria,
Imensas e alvas, sempre iguais
A oferecerem a sua maciez aos pés
Do caminhante que partiu,
Se oferece para o poema que não vem,
Por que como o caminhante,
Das areias brancas do meu rio,
A inspiração também sumiu.
Mas do exílio voluntário,
Aonde chegou, para nunca mais voltar,
O caminhante, nas noites de luar,
Olhando no vazio da página,
Sonha com a alvura das areias
Emoldurando os contornos do seu rio...
Da mesma forma o pobre poeta,
Na amargura de não ter inspiração,
Se sente um prisioneiro, sem prisão,
Se sente um cego tendo a vista,
Ou aleijado tendo a mão,
E olhando a página a sua frente,
De virginal brancura,
treme de febre, quase de loucura,
E se lastima e sente pena,
De si próprio, e se lamenta,
E manda um grito, desesperado, para o universo,
Por lhe faltar a ideia - ferramenta-
para poder concluir um pobre poema,
Ou, pelo menos, escrever um verso.