AO FIM DA TARDE

AO FIM DA TARDE

Neste fim de tarde deste dia de maio

Quando o sol debruça

Seus últimos raios que repousam,

Tingindo de vermelho

O leio viscoso do Grande agonizante

Eu mando um pobre verso,

À grande familia dos desesperados

Dos que não tem mais forças

Dos que entregaram à sorte

O caminhar de seus dias

Dos que não podem falar

Mudos de voz e vontade

Dos que não podem amar

Mesmo, ainda, sendo amados

Dos que não podem mais ver,

Cegos e vistas e de mentes,

Dos pobres, abandonados,

Nas mais rudes das misérias

Dos favelados do mundo,

Dos que dormem na calçada,

Cobertos pela tristeza

Dos que estão encarcerados,

Em prisões que não fizeram,

Dos que não em o direito,

De largar seus pensamentos,

Soltos, vibrando, nos ventos

Ao Sabor das liberdades.

Dos que um dia foram gente

E, hoje, já não o são

Dos que não podem mais ter

O Terno afago da mão

Do que trazem no olhar,

Um certo ar de humildade

Que eu não consigo explicar

Dos que caíram, lutando,

Por doce sonho-ilusão,

Dos Que não tem mais rosto

Por viverem cabisbaixos

Dos eu vivem esmigalhados,

Por seus senhores algemados,

Nas prisões das circunstâncias

E só lhes resta migalhas.

Dos que ardem nas fornalhas

Destes sistemas malditos.

Dos que mandam ao infinito,

De dor, um grito profundo,

Como se toda a dor do mundo

Acompanhasse este grito

Neste fim de tarde

Quando o sol se põe

Sobre este grande rio agonizante,

Eu acabo de mandar um verso

A todos os desesperados.

E acabo ficando, também, desesperado

Quando o sol se põe

Sobre o leito viscoso

Deste grande rio agonizante

( Porto Alegre, maio de 1972)

ERNER MACHADO
Enviado por ERNER MACHADO em 09/07/2024
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