Às vezes
Às vezes,
Posso me dar ao luxo,
De trabalhar de pijamas,
De casa, entre torradas e café,
Queijos e frutas frescas,
Olhando pela janela,
A paisagem chuvosa,
Da bruma que embaça o vidro,
Enquanto o vapor sai da caneca,
Do chá quente com mel, limão e aniz,
Às vezes,
Posso me dar ao luxo,
De cochilar no meio do dia,
Deleitar breves sonhos,
Esticar as costas e meditar,
Pausar o trabalho, deitar,
Rolar sobre o colchão,
Colocar os calcanhares na parede,
Olhar para o teto e sorrir em paz,
No silêncio ou ouvindo músicas,
Às vezes,
Posso me dar ao luxo,
De adiar o trabalho para a noite,
Para outro dia, para outra semana,
Simplesmente ser livre, viver livre,
Degustar da conquista das escolhas,
As escolhas que fiz lá atrás,
Que me tornaram quem sou,
Que me colocaram onde estou,
Me permitindo sempre escolher,
Às vezes,
Posso me dar ao luxo,
De me trocar e sair para passear,
Em dia útil, no meio da semana,
Ir ao cinema, ao shopping, à livraria,
À praia, a um restaurante chique,
Me pagar um bom jantar e sobremesa,
Sim, eu sei, são pequeno poderes,
Que eu agradeço todos os dias,
Que agradeço por ter batalhado lá atrás,
Virado noites e madrugadas, dias sem fim,
Abrindo mão de prazeres mundanos,
De distrações efêmeras e inconsequentes,
Para agora ter escolhas, minhas escolhas,
Às vezes,
Posso me dar ao luxo,
De dizer que sou feliz na maioria das vezes,
Estou em paz na maioria das vezes,
Encontrei minha completude em mim,
Saí dos tempos de trevas para iluminar-me,
Saí do desatino para a consciência de mim,
Por isso, posso ter sábados em dias úteis,
Por isso, posso ver filmes ou séries,
E viver sem pressão, sem cobranças,
Sendo meu destino por mim conduzido...