DESAFOGO
Tantas vezes ouvi injúrias em todas as vozes, mas me calei
Em nome da pretensa moral, que soergue nosso sonho de perfeição
Eu fugi de tudo que mais queria, para fingir ser feliz com o que herdei
E me vi espancado pela consciência, ao dizer sim para o não!
Pássaro sem asas, acatei meu destino terrestre, mesmo sendo ar
Acenei delicadamente ao menosprezo de cada sorriso leviano
Em nome da paz, eu preferi viver comigo mesmo a guerrear
Quantas vezes tido por sábio, me senti o mais tolo insano!
Meu deslustroso olhar, mentiu ao beijo regado a tanta atonia
Porque não quis colidir com a verdade, que somente eu não notava
Eram assim os brindes que embriagavam minha felicidade de melancolia
Onde por trás do incolorido sorriso, por dentro eu chorava!
Agora eu dedico repúdio aos meus dias de pena e me nego esse afã
E nos pergaminhos da vida, uma nova história eu escreveria
Não sei se assisti-la me faria bem, mas garanto que não seria vã
Porque assim me sinto melhor: inimigo de minha própria covardia!