GADO MAGRO

As costelas encolhem-se a cada inspiração

e o vão entre as ripas doem as tripas.

Costelas são seteiras de desnutrição.

Ah, gado magro,

se eu pudesse lhe dar um pasto

- mais vasto -

suficientemente verde

com água abundante,

Seco gado do cerrado

não seria.

Não veria as treliças

do seu estômago...

Árido gado do cerrado,

seu olhar é desértico

e me definha.

A forragear o solo ressecado

como se semeasse

a própria saciedade

Oh, lúgubre rebanho

de miseráveis,

ao tiritar seus tornozelos,

me torvelinha.

Se eu conseguisse chover

sobre esse campo,

não haveria

manada esquelética

E, no sítio da capela

onde agora eu rezo,

não suplicaria

por meu gado magro.

No altar só gratidão

pela engorda dos bovinos,

pelas gramíneas em cujas

veredas eu adormeceria.

Na sesta desse sonho,

nesse cerrado menos árido,

na fartura dos meus gados.

Elmer Giuliano
Enviado por Elmer Giuliano em 20/05/2024
Reeditado em 23/05/2024
Código do texto: T8067365
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