GADO MAGRO
As costelas encolhem-se a cada inspiração
e o vão entre as ripas doem as tripas.
Costelas são seteiras de desnutrição.
Ah, gado magro,
se eu pudesse lhe dar um pasto
- mais vasto -
suficientemente verde
com água abundante,
Seco gado do cerrado
não seria.
Não veria as treliças
do seu estômago...
Árido gado do cerrado,
seu olhar é desértico
e me definha.
A forragear o solo ressecado
como se semeasse
a própria saciedade
Oh, lúgubre rebanho
de miseráveis,
ao tiritar seus tornozelos,
me torvelinha.
Se eu conseguisse chover
sobre esse campo,
não haveria
manada esquelética
E, no sítio da capela
onde agora eu rezo,
não suplicaria
por meu gado magro.
No altar só gratidão
pela engorda dos bovinos,
pelas gramíneas em cujas
veredas eu adormeceria.
Na sesta desse sonho,
nesse cerrado menos árido,
na fartura dos meus gados.