A vida do sertanejo

Sobre a boca aquecida pela brasa um bule com café amargo coado;

Em espeto de bambu o milho verde é assado.

Sob o sol forte, em cima do quarador a roupa é estendida;

No tacho de cobre, enorme, para fazer sabão a gordura é dissolvida.

Um delicioso doce de leite em folha de bananeira enrolado,

Corre ligeiro um quati depois de ter um ovo roubado.

Nas badaladas do relógio de corda descobre-se que já é hora do almoço:

- Vai, menino, chamar seu pai lá no poço!

Acordar com o cantar do galo,

Da capina a mão cheia de calo.

A barba cortada na navalha,

O fumo enrolado na palha.

O arroz com feijão acompanhados de uma bela linguiça de porco;

Uma dose de pinga pra ajudar na digestão e esquentar o corpo.

Na parede da sala o rádio tocando do cantor sua triste sina,

No sofá o namorado tentar roubar um beijo da menina.

O fio de bigode vale mais que qualquer assinatura,

O sertanejo, na roça, sem estudo, mas com muita cultura.

Novamente o relógio de corda avisa da hora:

- Vai apartar as vacas, homem, senão chega o Caipora.

Com medo dos causos contados,

De tanto trabalho, o corpo cansado.

À luz do luar, agora, o namorado,

De tanto tentar, seu beijo conquistado.

Joaquim Lutero
Enviado por Joaquim Lutero em 20/05/2024
Código do texto: T8067290
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