A vida do sertanejo
Sobre a boca aquecida pela brasa um bule com café amargo coado;
Em espeto de bambu o milho verde é assado.
Sob o sol forte, em cima do quarador a roupa é estendida;
No tacho de cobre, enorme, para fazer sabão a gordura é dissolvida.
Um delicioso doce de leite em folha de bananeira enrolado,
Corre ligeiro um quati depois de ter um ovo roubado.
Nas badaladas do relógio de corda descobre-se que já é hora do almoço:
- Vai, menino, chamar seu pai lá no poço!
Acordar com o cantar do galo,
Da capina a mão cheia de calo.
A barba cortada na navalha,
O fumo enrolado na palha.
O arroz com feijão acompanhados de uma bela linguiça de porco;
Uma dose de pinga pra ajudar na digestão e esquentar o corpo.
Na parede da sala o rádio tocando do cantor sua triste sina,
No sofá o namorado tentar roubar um beijo da menina.
O fio de bigode vale mais que qualquer assinatura,
O sertanejo, na roça, sem estudo, mas com muita cultura.
Novamente o relógio de corda avisa da hora:
- Vai apartar as vacas, homem, senão chega o Caipora.
Com medo dos causos contados,
De tanto trabalho, o corpo cansado.
À luz do luar, agora, o namorado,
De tanto tentar, seu beijo conquistado.