Beiju e Castanhas de Caju
Surge a alvorada!
Não vejo minha gata
Nem o vira-lata.
Quiçá já se aventuram
Numa arriscada caçada.
Ligo bem cedo
Meu rádio a pilhas
E escuto de perto
Das aves seus pios.
Bebo um copo com água
Bem fria da talha.
E a barba eu raspo
Com a fina navalha.
Faço o café bem cedo
Com a doce garapa.
No fogão de lenha ainda tem:
- Jabá, buchada e coalhada.
E pra reforço há canjiquinha
Com costela de porco.
Mas não posso esquecer
De refogar a feijoada.
Eu mesmo conserto
O telhado rompido.
E quero deixar
Tudo acabado.
Pois chega de goteira
Na minha cartucheira.
Dos frutos que brotam
Aguardo a colheita.
Confio na chuva
E não tenho suspeita.
Crio bezerros, ovelhas
E cavalos também;
E a ninguém eu digo
Que no riacho. . .
Pepitas contêm.
Alguém que grita
E vou à cancela.
Maria é bonita
E faz-me uma visita.
Tem cintura fina
E pernas roliças,
Vestido de chita
E nos cabelos uma fita.
Traz-me um presente
E fico contente.
Na vasilha tem amoras
E castanhas de caju;
Também há quitutes inerentes:
– Broa, tapioca e beiju.
Cortejo Maria
Que é minha diva
E observo seu corpo
Com sutileza
Pois seu olhar me cativa
Com tanta beleza.
Comentam que ela ora
Ao Santo Antônio na lapa
Lá no rochedo
Onde desce uma cascata.
Eu gosto de Maria.
E. . . o que faço agora?
Revelo a Maria
Que a quero só minha. . .
E aguardo ofegante em sincronia. . .
– Enfim!!!
– Maria aceita ser minha rainha!
Desfrutamos naquele instante
A sublime certeza
Que nosso amor foi sempre brilhante
Sem nenhuma surpresa.
Num aperto de mão
Rompemos o segredo.
E com um beijo em sua face
Fui mais além. . .
De um todo medo.
Depois de um abraço
Fechamos o enredo.
E violamos o sigilo
De um sentimento quedo.
Vou casar com Maria!
E vivermos. . .
No nosso aconchego.
(Livro: Vermelho Navalha/2023 - ISBN – 978-65-00-88845-4)