Cansei de textos técnicos
Cansei dos textos técnicos
Formatados, rebuscados, asseados
Estou preferindo a poesia
Com sua ausência de formas
Preciso de novos olhos, novos ouvidos e novas mãos
Para ver, cheirar e tocar tudo o que há dentro
Tatear na escuridão e pescar o que há de belo
Quero mudar o rumo, trocar as vírgulas de lugar
E encher o papel com pontos de exclamação
Quero apenas deixar a dor transbordar
Jorrar de dentro de mim
Quero o sem sentido, a ausência de razão
Quero, por um momento, poder enlouquecer
E gritar e rir e dançar e girar sobre meu próprio corpo
Só porque é gostoso ver o mundo rodando em torno de mim
Quero rasgar o terno, pegar na enxada
Sentir o calor da terra penetrar nos meus pés
Quero, por fim, deitar-me na erva, cobrir-me com o musgo
E, só por um instante, me sentir raiz
Quero sepultar todas as certezas
Trilhar o imponderável
Quero uma nova vida, um novo ideal, uma nova esperança
Quero acender a chama de vida que está quase morrendo dentro de mim
Preciso, urgentemente, de poesia!
A poesia simples e gostosa
Como o cuscus de milho da minha avó
E o feijão fresquinho da minha mãe