Barco Antigo

No cais da minha saudade

Atracou num barco antigo

Que julguei não ver jamais;

Um amor de pouca idade

Que o destino decepou

Em agrestes temporais.

A noite calou meu ser

Senti perto dor e perigo

Senti medo do passado;

Era o medo de te ver

Porque em mim nada mudou

Só a voz neste meu fado.

O barco chegou à praia

Fez-se perto aquele grito

Que deu voz ao alto mar;

E na proa que desmaia

Nesse barco que aportou

Vi um braço a acenar.

Nada trouxe de verdade

Afinal estava perdido

E nós ficámos iguais;

Do cais da minha saudade

Foi-se embora o barco antigo

Que julguei não ver jamais.