Saudade dos que partiram

Hoje, os ventos que levam

a derramar a púrpura tinta

sobre a pálida folha

são os mesmos que tangem,

nas minhas angústias,

as velas do escaler

que singra as tormentas turvas

do oceano das minhas reminiscências,

tentando encontrar a estrofe perfeita

à expressão das dores da saudade.

Pelo rosto amarrotado,

Não reclamo ao tempo pela arte,

Pois sei que é resultado da engenharia necessária

À drenagem das lágrimas incontidas.

E as lágrimas que regam

Os olhos de verem o passado

Não são de tristeza

Nem de alegria,

Pois que de remorso

Pelas vezes que podia,

Mas não quis

Ver os amigos que se foram

E dizer te amo quando podiam me ouvir.

De resto, o tempo,

No ofício de capturador de almas,

Não é apenas instalador de solidão,

Ao contrário, dela se vale ao exercício

De lavrador da saudade.

É, portanto, a saudade,

A depender da motivação,

Lamento ou jubilo,

Castigo ou absolvição,

Mas sentir saudade,

Inda que pela dor,

Sempre será

Prova de amor.

EVANY ALVES DE MORAES
Enviado por EVANY ALVES DE MORAES em 19/10/2023
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