Saudade dos que partiram
Hoje, os ventos que levam
a derramar a púrpura tinta
sobre a pálida folha
são os mesmos que tangem,
nas minhas angústias,
as velas do escaler
que singra as tormentas turvas
do oceano das minhas reminiscências,
tentando encontrar a estrofe perfeita
à expressão das dores da saudade.
Pelo rosto amarrotado,
Não reclamo ao tempo pela arte,
Pois sei que é resultado da engenharia necessária
À drenagem das lágrimas incontidas.
E as lágrimas que regam
Os olhos de verem o passado
Não são de tristeza
Nem de alegria,
Pois que de remorso
Pelas vezes que podia,
Mas não quis
Ver os amigos que se foram
E dizer te amo quando podiam me ouvir.
De resto, o tempo,
No ofício de capturador de almas,
Não é apenas instalador de solidão,
Ao contrário, dela se vale ao exercício
De lavrador da saudade.
É, portanto, a saudade,
A depender da motivação,
Lamento ou jubilo,
Castigo ou absolvição,
Mas sentir saudade,
Inda que pela dor,
Sempre será
Prova de amor.