URBE TRISTE
URBE TRISTE
(Dux Pellegrino/Gerson Zequim 2016)
No sertão a face dura da estiagem gera escassez
Mas na cidade sufocada pela fumaça do progresso
A vida perde a validade como balão à deriva
Navegando às cegas na fuligem nociva da estação
O pretume em partículas que embaça minha visão
A poluição contamina o corpo e mina meu coração
Muitos são iludidos pela falsa qualidade de vida
Onde ter muito poder também simboliza amargura
A solidão da linda madame com seu cãozinho
Desfilando no espaço onde criança não tem vez
Sem ameaçar o tônus do abdômen tanquinho
É uma afronta herética falar no assunto gravidez
Na correria dessa selva de concreto cinzento
A Deus o amigo secreto, a tempo fiz uma jura
De muito breve me retirar dessa situação insegura
Viver no meu torrão com a graça da minha porção
Adormecer ao som da chuva no telhado sem laje
Despido do meu traje, sentir o cheiro doce da vulva
No leito caloroso onde o sexo é coisa de rotina
É Amor e desejo, não promessa ou peça de obrigação