FRUGAL
uma daquelas manhãs ensolaradas
quando o céu entra na alma
e as roupas penduradas no varal
cheiram a vento fresco
as crianças correm no quintal
a bola, o velocípede, a árvore
da porta da cozinha
o cheiro da feijão temperadinho
a mãe na janela, o sorriso fraterno
olha carinhosamente suas crias
era um dia qualquer
mais um no calendário da vida
uma segunda, ou quarta, ou sexta?
não sei... só sei da simplicidade
dos momentos tão bem guardados
daquele temporal à tardezinha
do cheiro da grama depois da chuva
o pipoqueiro na mesma esquina
do vizinho na cadeira de rodas
o caminhão do gás e sua musiquinha
um ramo de coisas simples
tomar banho com sabonete cheiroso
sentir os cabelos molhados nos ombros
o pingo frio da água em meu decote
eriçando o bico de meus seios
sentir o gosto do café quente
experimentar a geléia de morangos
passar a língua nos lábios - os resquícios
a brisa da tarde no rosto
e a sensação de felicidade eterna
um olhar profundo e significativo
as palavras fáceis saindo da boca
o abraço apertado, sentido, desejado
a textura dos cabelos macios nas mãos
amar sentindo com a alma em pedaços
repartir um pensamento, sentir conforto
uma felicidade em fração de segundos
as mãos se tocando em reconhecimento
deitar em sonhos com gosto de chocolate
em silêncio ouvir a música do pensamento
o aconchego de lençóis macios e cheirosos
descansar a cabeça no travesseiro
na mão, um livro novinho a ser descoberto
um sorriso interno, como um agradecimento
o apagar lento da luz do abajur
o espreguiçar-se morno dentro das cobertas
ah! que dia tão simples e grandioso
quero dormir agora cheia de lembranças