MANTIQUEIRA CAIPIRA (haicais entremeados) (28/06/2017)

Aurora desperta nos montes mineiros

Entremeados de névoas brancas

A relva todinha molhada

À espera dos raios de sol.

 

Broas de milho

Mais aromas de café

Serras de Minas.

 

Nos campos de capins esverdeados

Vacas pastejam e perambulam devagar

Depois das ordenhas que se repetem

Nas rotineiras madrugadas.

 

As vacas pastam

Em encostas íngremes

Em horas lentas.

 

Meninos e meninas saltitantes

Alegres e barulhentamente infantis

Indo e voltando em diárias repetições

Rumo à escolinha do povoado.

 

Crianças brincam

Em caminhos tranquilos

Latidos de cães.

 

O caipira alimenta seus porcos

Com tudo que vira comida

Para que num dia mais adiante

Possa ser por eles alimentado.

 

Porcos comendo

Na pocilga barrenta

Leitões mamando.

 

Nos dias chuvosos lá fora tudo para

As lenhas dos fogões avermelham-se em brasas

Bolinhos de farinha chiam em gorduras quentes

As crianças têm olhos maiores que as barrigas.

 

Tempo de chuva

Famílias em casa

Bolinhos fritos.

 

Na tardinha de todo dia

As aves se recolhem nos poleiros

Segue-se o ritual de picar fumos

E transmutá-los em palheiros.

 

Poleiros cheios

Velhos sentados pitam

É fim de tarde.

 

A boca da noite é para a boa prosa

De tudo se proseia um pouco

Assombrações, sacis e lobisomens

E o peixe grande que escapa toda vez.

 

Sacis travessos

Todos os lobisomens

Sombras noturnas.

 

Na serra se dorme bem cedo

Para muito bem cedo acordar

A prosa sempre é muito boa

Mas já é hora de se deitar.

 

As prosas vêm

As prosas já se foram

Têm que repousar.

 

Grilos cricrilam e sapos coaxam

Na sinfonia suave das noites serranas

Sob o céu bem mais estrelado

Do que o céu das noites urbanas.

 

Só quietudes

Nas noites dessa serra

Que chora águas.

 

As horas da serra são bem outras

O relógio é o sol e a lua também é

Num momento ela está gorda

E noutro está bem fininha.

 

Passa o tempo

E sempre bem devagar

Pressa nenhuma...