A poesia como fuga
Somos feitos de versos consumidos em frases inacabadas, daquelas que nos aprisionam ao contarmos através dos poetas. A poesia deve ser feita sem pressão, daquelas em que um simples riscar com a caneta vira expressão.
A poesia consome o que temos de mais sublime em nosso ser. Os versos que surgem através da escrita escondem passados de angústia, amor, ternura, solidão e marasmo de um entardecer incandescente.
A poesia tem essas "idas" que, ao serem feitas dentro de estrofes, rimas, versos brancos e livres, encontram sentidos nas leituras mais apaixonantes. A poesia é feita de montantes.
O poeta não cria poesia, ele escreve sobre a folha de papel, nos aparelhos portáteis, os sentimentos que abalam seu ser, sem dizer o porquê. A poesia que o poeta declama nunca pode ser lida como algo unitário ou solitário, ela é um eu coletivo com sentidos múltiplos.
Somos poetas porque a realidade nunca nos permite sermos quem somos. Viramos poetas para esquecer das angústias perdidas em mundos de mentiras. A poesia torna-se uma fuga do encontro com o outro perdido, ela nos leva ao céu sem sairmos do chão.
A poesia, o poeta e aquilo que somos completam os ciclos de amor que o mundo tende a varrer para debaixo da solidão. É a poesia que nos fala do abismo, do marasmo e nos coloca em sintonia com a realidade cruel.
Portanto, não somos poetas porque gostamos, mas porque necessitamos de fugas reais em mundos imaginários.