APENAS SER.

Ah, eu queria...

Ser céu, ser mar,

ser sol e ser luar.

Ser um pouco de tudo

e indefinida.

Apenas viver e ser.

 

Ser o abraço para o enlutado.

Ser o pão para o faminto.

Ser a água para o sedento.

No entanto, sou apenas eu .

Sem privilégios de viver, sendo

tantas ao mesmo tempo.

 

Este limite me faz olhar

para o Alto.

Desejo ir um pouco

além do que sou.

Alargo a minha capacidade

de ser tão mínima.

 

Sou apenas

uma gota da chuva,

que esbarra numa folha

e por terra cai.

Cai e alimenta as raízes invisíveis

que levam força à flor.

 

Não sou a flor,

mas me comprazo

em cumprir a minha missão.

Sigo a minha vida

sem alardes, apenas sendo

o que preciso ser.

 

Ser uma discreta gota.

Totalmente encantadora!

Despida de exageros.

Prefiro a discrição

à exuberância,

que é tão própria ao luar.

 

Há um prazer inenarrável

em saber

o caminho que vou

e ninguém vê.

O caminho está

no avesso de mim.

 

É doce nascer e renascer

infinitas vezes.

Deixar-se ir e retornar,

sempre se doando inteira...

ainda que já esteja formada

por tantos pedaços.

 

Simples assim.

Vida que pulsa, pulsa em mim...