Um pouco de café
Hoje eu tomei minha primeira xícara de café depois de tanto tempo. Estranhamente não parecia tão ruim quanto aquela primeira vez, quando a idade era menor e a curiosidade maior do que tudo.
Um misto de sensações descendo pela garganta, o amargo da vida acompanhado das doçuras finais dos momentos que não voltam mais; sabores que só são apreciados a cada gole demorado e carregado.
Foi o primeiro café que tomei sozinho. Nele percebi que os anos passaram, a maioridade atingiu até meu paladar e coisas que eu odiava agora eram agradáveis.
Beber sozinho me fez pensar no que eu estou esperando tanto. No porquê eu sempre corro atrás. Principalmente com pessoas.
Acho que estar desacompanhado é mais solitário do que parece. O café parece mais forte quando se é degustado sem companhia.
Talvez café tenha virado meu novo refúgio, onde posso me aquecer um pouco mais sempre que precisar. Talvez, com certa frequência, eu sempre faça um pouco a mais te esperando voltar, e vejo sempre aquela outra xícara do outro lado da mesa a esfriar.
Talvez aquele gosto forte me dê o alento necessário para sobrepor o amargo que você deixou aqui. Me afogando diariamente em xícaras repetidas que transbordam um pouco. Queima meus dedos, mas minha mão não se afasta dali. A dor parece mais tolerável agora do que já foi antes já que você não volta mais.
Que desperdício de café...