Te tenho nas noites quentes de verão
Tudo está em mim e não se perde.
Teu corpo marcado na memória
Teu cheiro impregnado nas narinas.
Procuro distrair-me enquanto queimo
E não durmo, inquieta...
No arremedo do prazer que se anuncia
Um insignificante apaziguamento para encarar o novo dia.
Dia desses chego de mansinho
Apenas para te ver, ao longe.
Quem sabe sentir o teu perfume?
Um ano sabático perdido sem qualquer futuro pela frente...
Há dias em que a vida pesa e corta os dedos,
como as sacolas das compras frugais, instando-me a sobreviver.
Em outros, nostálgica, faz-me repetir baixinho as músicas que cantamos juntos.
Nesses, impulsos de te enviar uma breve mensagem: cante comigo, meu bem.
Detenho-me. O passado se encarrega de afastar o devaneio.
Há dias em que a vida - por breve momento - brinca de insana e rascunho as palavras que nunca enviarei.
Depois que elas se materializam, releio-as.
Estúpida!
Assassino-as, afogando a loucura em litros de juízo e autoproteção.
E rio-me, ingênua, achando ter dado o troco na vida...
Mas nas noites quentes do verão, ah!!
Transporto-te para esse lugar incerto e onírico
escondido aqui dentro, onde nem eu sei como chegar.
Apenas sigo, como se soubesse.
Ludibrio a vida, para que não me interrompa o breve momento.
Olhos semicerrados, fantasio tua presença,
E os travesseiros e lençóis contam ao meu ouvido
Nossas histórias de amor.
Te tenho nas noites quentes de verão...