REGIONAIS
«Ode a Portugal»
Iniciei no Minho, desde o norte ao sul,
Percorrendo todo o País de lés-a-lés,
Quase sempre a coberto de um céu azul
Com excelsa beleza debaixo dos meus pés.
Vi gente muito alegre e tão descontraída,
De consciência limpa p´ lo dever cumprido
E revelando o seu amplo prazer à vida
Por tudo aquilo que ela tem e faz sentido.
Eu fiz-me “Russo” do Portugal Pequenino
E vi os pescadores do Douro Litoral
Lançando âncoras na busca do verde limo
Pra fertilizar terrenos de produção geral.
Vi gente atarefada em alta pescaria
Ganhando a vida para os filhos e para os seus,
Que o risco dela mesma nunca é garantia
Nem sequer dá ganho ao povo, à terra ou aos céus.
Eu fiz-me “Pisca” voadora p´ las serranias
Das transmontanas latitudes com nevão
Mas não vi almas penadas e nem magias
Quer do lado de cá ou de lá do Marão.
Vi gente atarefada no alto das montanhas
Na procura de colher o pão de cada dia,
Com o suor saído das próprias entranhas
Sem nunca penetrar nelas como devia.
O Russo e a Pisca, abrindo as asas peregrinas,
Viram-se no horizonte cimeiro dos Hermínios
E deduziram, no bojo das mentes cristalinas,
Que a vida não é fácil para todos os desígnios.
Vi gente procurando, mas sem encontrar,
Alimento necessário para os seus rebanhos;
Como é difícil, no alto das serras, procurar
Os frutos ajeizados por hábitos estranhos…
Ouvi daquela voz melódica e serena,
Aquele enquadramento sonoro e pertinaz,
Num sentido perpétuo de dor em rubra pena
Qual destino ousado na consequente paz.
Vi gente rebuscando, cada dia, hora a hora,
Numa luta tenaz, contra tudo e contra todos,
Não temendo medir meças, pela vida fora,
Com vizinhos-animais, toureando de mil modos.
- Eh touro, vem daí! Eh touro, quem dá mais?
Tourear, mano a mano, com uma raiva d´ amargura!
- Eia, está cara a palha, ´stão caros os trigais.
Como compensar, esta triste desventura?
Campinas e mais campinas, para além do Tejo,
São rudes as tarefas, loucos os calores,
Em cada foice vai dançando voraz desejo
De chegar mais além do que os vãos ardores…
Vi gente e mais gente, penando contrafeita
E encarando o seu dia-a-dia sem esperança,
Mexendo d´hora a hora sempre mais desfeita
Por não ter alternativa para outra dança.
Estremadura? Chega-se depressa ao Algarve,
Terra, onde todo o povo vive de ilusão,
Na ânsia de que a vida dá negócio e serve:
Ai do Russo, ai da Pisca… vai-se-lhe a paixão!
– Ai do mar, ai do mar! Ó Pisca, ai do mar!
Lá muito mais ao longe, vislumbra-se a Madeira.
Terra nossa, gente estranha sempre a chegar,
E diz quem chega: é terra, é terra verdadeira!
– Ai do mar, ai do mar! Ó Russo, ai do mar!
– Menos terra do que mar, mais paixão do qu´ amores…
Quem chega, há-de voltar qualquer dia e ficar,
Ou não se chamasse, esta, a terra dos Açores!
Regionais, Regionais, de pendor ou fantasia:
Como cada roca, cada peça, tem seu fuso
Quanto àquilo que se veste ou calça dia a dia,
Cada terra, oh, cada terra tem seu uso…
Regionais também, por folclore ou por danças,
Conforme os gostos e a cultura de cada aldeia,
Marcam as tradições e partilham as mudanças
Do Património que cada Geração semeia!
Frassino Machado
In INSTÂNCIAS DE MIM