Nula Pulsão
Tenho uma ligeira percepção de que tudo o que me toca não é real
As inquietudes da mente só existem para trazer-me insônia nas noites de sono
Nada mais
Os sons da alvorada são meros tinidos sem tom
E meu andar ao trabalho é mera mecânica
Àqueles que cumprimento nas esquinas por mera deferência
Não notam meu desespero em viver
Eu ando de óculos
Escuros
Assim esquivo-me do julgo alheio
E evito ver vida em mim
Esta nula pulsão por ar
Por gozo
Que chama-se de vida
E que rege o compasso da chama
É mero desgosto
A vida é repetição
É uma sórdida junção de minutos
Que juntos
Putrefazem este fardo
A tal felicidade não passa de farsa
São lampejos de ilusão
Uma quimera presente
Que infelizmente
Alarga o compasso da vida
E eu ando em outro passo
Em descompasso
Se um dia eu almejar tocar instrumento
Que seja o mais triste
Aquele que o som alarma
E que evidencia
Meu real sentimento
Se houver amor
Se é que existe
Não espere de mim cartas
Nem tampouco flores
Terei espinhos
Mas sem a rosa
Talvez o único amor em que acredito
Fora de minha mãe
Que mesmo sozinha
Com pouca instrução
Instruiu-me
Se houver funeral em minha alforria
Que seja alegre
Mas vazio
Este será o único momento
Que esta palavra
Terá relação a mim