Nula Pulsão

Tenho uma ligeira percepção de que tudo o que me toca não é real

As inquietudes da mente só existem para trazer-me insônia nas noites de sono

Nada mais

 

Os sons da alvorada são meros tinidos sem tom

E meu andar ao trabalho é mera mecânica

Àqueles que cumprimento nas esquinas por mera deferência

Não notam meu desespero em viver

 

Eu ando de óculos

Escuros

Assim esquivo-me do julgo alheio

E evito ver vida em mim

 

Esta nula pulsão por ar

Por gozo

Que chama-se de vida

E que rege o compasso da chama

É mero desgosto

 

A vida é repetição

É uma sórdida junção de minutos

Que juntos

Putrefazem este fardo

 

A tal felicidade não passa de farsa

São lampejos de ilusão

Uma quimera presente

Que infelizmente

Alarga o compasso da vida

E eu ando em outro passo

Em descompasso

 

Se um dia eu almejar tocar instrumento

Que seja o mais triste

Aquele que o som alarma

E que evidencia

Meu real sentimento

 

Se houver amor

Se é que existe

Não espere de mim cartas

Nem tampouco flores

Terei espinhos

Mas sem a rosa

 

Talvez o único amor em que acredito

Fora de minha mãe

Que mesmo sozinha

Com pouca instrução

Instruiu-me

 

 

Se houver funeral em minha alforria

Que seja alegre

Mas vazio

Este será o único momento

Que esta palavra

Terá relação a mim

 

CRISTIANO WARDIL
Enviado por CRISTIANO WARDIL em 20/11/2022
Reeditado em 25/07/2023
Código do texto: T7654378
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