REENCONTRO...

Camanducaia/MG – 25 de outubro de 2022 – 19:04:11

REENCONTRO...

Marcelo Guido

 

 

 

Encontrei minha outrora amada em uma fila qualquer

A alma aqueceu forte numa terça de um outubro aleatório...

Eu estava notando seus cabelos balançando ao vento

E um abraço restaurou o quanto seus carinhos bons eram...

 

 

Talvez ela nem tenha me reconhecido de imediato

Mas sua alma à minha disse aquele maroto “– oi!”...

Tantas emoções se mesclam entre saudades e mágoas

E rimos tal como em nossos melhores instantes já tão idos...

 

 

Mesmo que algumas lágrimas

Tenham escapado de ponta a ponta...

Pois aquela mulher já havia me feito o homem mais feliz

E nenhuma outra deteve de fato de mim corpo e alma...

 

 

Eis que 1846 tenha aflorado tão intensamente

Quando lutamos, lado a lado, com nossos sabres...

Ficamos ali no pseudo silêncio... perdidos na nova timidez

À medida que o diálogo ensaiava se desenvolver...

 

 

Tomamos algumas taças de vinho

Recordando-nos do quanto éramos precipitados...

Até que, no repente, nossa música em um rádio tocou

E dançamos tal qual naquelas chuvosas noites de um carnaval...

 

 

 

Brindamos à inocência de dois ex-namorados

Presenteados por reviver tudo de bom naquele momento

Tal como uma tênue e insólita recompensa a todo vazio

Nem nós entendíamos o quão relevantes éramos um ao outro...

 

 

Ela me disse que seguia casada e com sua vida de sempre

Em sua zona de conforte, vivendo o dia a dia...

E que gostaria de poder dizer que amava aquele homem

Mas que era incapaz de, para mim, mentir ao fitar meus olhos...

 

 

Eu disse que também estava com uma mulher muito bondosa

Mas que não me fez esquecer do fascínio de seus olhos verdes

Incertezas pairaram quanto a tudo que vivemos

Dívidas por nossas escolhas e gratidão por terceiros...

 

 

Tantos anos depois: amor, essências, evidências e dor

(Mas não era o que sonhamos, indubitavelmente...)

Dilemas de adultos replicados de nossa melhor fase

Sério mesmo que crescer era algo assim com tantas antíteses?

 

 

Ela disse que me acompanhou toda minha trajetória

E que o sucesso de minha carreira é muito merecido

Eu disse que o resultado até vem sendo mesmo um bom paraíso

Mas que me falta algo: Ainda percorro meu próprio inferno

 

 

As garrafas estavam vazias e nossas línguas estavam cansadas

Sabíamos que era a hora de nos despedir...

Por anos ou, quiçá, toda vida...

Bem mais que algo a mais... Nós agora bem sabemos...

 

 

Ela me deu um beijo em minha face...

Com aquele erradinha clássica, serrando canto de meus lábios...

E se dirigiu ao longe sem para trás olhas...

Já havíamos selado nossos destinos... Em carreiras solo...

 

 

Deixou um recado em um guardanapo: “- Sou tua! Sempre...”

E senti a velha boa dor de ser homem por um “bem maior”.

Segui meu caminho em um misto de pensamentos

Assim, me virei e retornei para casa...

 

 

Vendo que já havia uma mensagem no telefone...

Minha realidade me clamava... Inclemente:

A noite se transformou em dia chuvoso

Em meio ao fogo que reaqueceu meu coração...