PÚRPURA DESFOLHA
De bordos vermelhos se recobre
Todo o chão da alameda onde o outono
Colore de tons púrpura o adro nobre,
Pondo em tela um jardim anos sem dono.
Já minh'alma captiva se descobre
Nas flores, em extático abandono.
Toda de flamas vermelhas adornada,
Colore o flamboaiã também o chão.
Tendo uma seguindo a outra, enfileirada,
Se alcatifa um arrás de coroação,
Que cobre belamente toda a estrada
Ladeada co'a florada em profusão.
Ao largo, um poente sobre as serras
Muda todo em lilases o ocidente
Enquanto, desvalido entre guerras,
Um rouxinol cantando-me eloquente
Pela beleza excelsa d'estas terras,
Eu m'entrego ao momento tão-somente.
Forte farfalha o vento pelas copas
Que em redemoinho agita-lhes as folhas.
Mas, aqui e acolá, rubras cachopas
D'onde a saúva ávida de escolhas...!
Mas mesmo o formigueiro e suas tropas
Pouco pode co'as púrpuras desfolhas...
Mais longe segue em fuga na alameda
O olhar na claridade vesperal...
Eu paro enternecido face à queda
Da folha a desprender-se em espiral,
Pois, tapete vermelho m'envereda
Pelas mais ricas horas, afinal.
Betim – 13 05 2019