O POETA E O VENTO
O POETA E O VENTO
O vento se espreme
para passar
na fresta da porta da sala.
Uiva como um lobo
para nos amedrontar.
Lá fora, ele lapida a pedra
que se tornará areia
para embaçar os olhos humanos
tão limitados.
Quem sopra o vento?
Quem sabe onde nasce o vento?
Perguntas me vêm à mente
enquanto a vida
toca – delicada
ou violentamente - as folhas
das plantas na varanda.
Minha mão quieta
não ousa escrever mais nada.
Por momentos, deixo o vento escrever
a sua história.
Ele passará por aqui arrastando consigo
inúmeras sementes
que jogará no chão de terra.
Depois que o cisco sair da vista
daquele homem,
que driblou o vento
e não questionou a ciência;
depois da vista arranhada,
talvez ele entenda
a longevidade das palavras sábias
lançadas pelo vento.
Porque somos pedras,
teimosas e duras pedras
sendo buriladas
pelas palavras sábias dos ventos.
NELSON MARZULLO TANGERINI
.