NATUREZA MORTA ☆
Na asa que chega com o primeiro passo da noite
A sombra invade silenciosa
Pulsilânime e tristonha
Duma preguiça manhosa
Pinta tudo de negro e penumbra
Na face da planície o negrume a tudo espanta
E gera o gelo na tundra
Quebra o silêncio das almas
Sem dizer uma palavra
---- "A sombra trás o remorso que os ingratos precisavam sentir
Precisavam se arrepender e depois se redimir pelo tribunal do juízo."
As corujas revoam
As garras capturam roedores
A enxurrada invade
Selênica, cromada
Trazem cores, trazem mágoas
Que liquefazem os aguaçais
Em lágrimas e temporais
A noite avança
Desce sem misericórdia e compaixão
Trás o manto negro a vestir as colinas de medo
Qual granizo que esfria o verão
As névoas que avançam
Como fantasmas que cobrem com desespero
A relva que tremia de medo
Sua roupa fina de dormir
Branca de véu já bem cedo
De chegar onde partir
O dia se esqueceu de romper
A noite se olvidou de escurecer
E a estrela de cair e envelhecer
Lá no sol que se omitiu de amanhecer
Transfiguram-se os raios em trovão sem voz
E a calma do dia como carrasco e algoz
Sorria
Como se dissesse à voz:
--'- "A noite é passada e amanhece o dia,
Iluminado como o frio ao céu veloz
Um dia
Não mais que uma natureza morta
Num quadro pintado,
Sinistramente obscuro e belo
Porém sem contemplação
E esse retrato me destrói..."
28/07/2022
05:28hrs