Poeminha da vida torpe
Difícil dizer em qual instante a vida tornou-se torpe...
Lembro do seu riso gasto
O arrastar das sandálias
A chave virando no trinco da porta
A saudade quase morta de você
Relembro das graças
Dos búzios nunca jogados
Do corpo esticado na cama desfeita
Dos suores trocados
Da vida torpe que levava-mos
Não sei precisar quando o amor se desfez
Só sei que guardei os seus trejeitos
As suas músicas dedilhadas
A guitarra rompendo a noite
O dia em que você partiu
A memória embotada pela dor
Falha ao perceber o ponteiro estático das horas
Perdi o sono
Perdi os sonhos
E, sem muito a dizer, apaguei a luz que me guiava até você
No caminho torpe dos instantes indiziveis
Teu riso ecoa pela casa
Teu cheiro de malva
E toda a sua graça insistem em te projetar em mim
O seu fantasma dança na agonia desse ressentir
Difícil dizer em qual instante tornou-se vida o que era torpe
Porque dói demais amar-te assim