A flor das palavras
No quintal de meus pecados
existem palavras em floração
aguardam pingos de ternura
e alguns pensamentos arraigados
para cerzir amarguras
e perfumarem-se em oração.
São palavras ociosas
feito beijo de boca em boca
ou dinheiro de mão em mão.
São tão somente aves sem asas
espinhos sem rosas
ou sementes sem chão.
Palavras ainda sem significados
escondidas na invisibilidade da razão
- inertes - alheias aos horizontes
e mesmo sem contaminarem-se com verbos
já clamam por perdão.
Meus pecados se alumbram
como lua nos lagos
como cores no pavão
depois repousam indiferentes
no evidente infinito da loucura
na saciedade passageira da paixão.
Há um abismo entre meus pecados
e a inconsistência da censura
onde todo silêncio é impuro
e tece a teia da ilusão.
Olho-me no espelho dos jardins
- toda flor lateja reminiscências
em tempo sem precisão -
cada enigma uma dor arraigada
vassalando as emoções
somente as palavras
insistem em desabrochar
fora da iluminura delicada
das submissas estações.