Durante e depois

 

É primavera

Canto do sabiá

Ponteia o bem-te-vi

Ruas estreitas

A cidade paciente sorri levemente

O tempo passa na velocidade do riacho

Na matriz a torre num sempre olhar

O burburinho na leitura litúrgica

E seguem-se na manhã sonolenta

Os rituais além dos já normais

Beijo no rosto, puxa-se a cadeira

Chegam mais

Pessoas de jeitos ambientais

Essas de fundo de quintais

Paz e bonança...

Aspargo, couve-flor, palmito

Azeite, algum vinagre

Quebrar a saudade

Na língua, variado é o resultado

Na ponta, no meio, no final

Vinho tinto original, seco

Carne de churrasco

Mais palmito

E o que cerca, miúdos

Na geladeira o suco

Verde, amarelo, anil

Limpar corpo e alma

Ficar leve e sem receio

O medo não seduz

Pelo menos para quem é normal...

E a banda toca e passa

A rua calçada, levemente molhada

Reflete as luzes da ribalta

Anoiteceu e a vida se abriu

Na marquise o recolhimento

Mesas e cadeiras na calçada

Copos tilintam

Bocas sorriem

Olhos brilham

Atores de uma vida tranquila...

Sorrateira é a solidão de observar

Estando no segundo andar

 

Emmanuel Almeida
Enviado por Emmanuel Almeida em 22/10/2021
Código do texto: T7369301
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