Constante

A poesia me veste, me rasga e me costura.

Sou versos flutuando em estrofes incoerentes.

Sou mais que o sol quando queima a lua e mais que a lua quando amansa o sol.

Eu sou arte que preenche a vida e vida que dá luz à arte.

Sou amianto que quebra ao ser puxado e repuxado quando nego o amor.

Eu sou as flores que caem no inverno e que retornam no outono.

Sou uma rua sem saída que no final todos encontram uma porta;

Sou essa porta que todos encontram, mas que quase ninguém abre.

Minha alma é o carnaval que ferve em dia de sol e que chora em dias chuvosos.

Sou barro batido cravado na pele de quem busca amar;

Meu amor são cinzas que se vão ao longo do mar.

Sou um corpo despido coberto por vestes rasgadas.

Sou as estrelas que brilham sem parar e o tempo que ofusca parar.

Sou amarelo, verde e azul, mas vermelho e branco me fazem respirar.

Sou inocente bocejando às setes horas em pleno altar.

Minha respiração é calcificada quando ando às margens do rio.

Sou amante daquele rapaz e namoro a poesia.

Sou vísceras despedaçadas despedaçando os fios que cortam as ruas.

Eu sou pobre, poeta, amante e apaixonado.

Sou um filho prosódico alucinando entre parágrafos.

Sou chama que queima no paiol molhado pela chuva.

Minhas paredes dizem o que não sou, mas quem eu era.

Sou tudo isso, muito mais e nada menos que foi dito.

Roberio G
Enviado por Roberio G em 23/08/2021
Código do texto: T7327115
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