Constante
A poesia me veste, me rasga e me costura.
Sou versos flutuando em estrofes incoerentes.
Sou mais que o sol quando queima a lua e mais que a lua quando amansa o sol.
Eu sou arte que preenche a vida e vida que dá luz à arte.
Sou amianto que quebra ao ser puxado e repuxado quando nego o amor.
Eu sou as flores que caem no inverno e que retornam no outono.
Sou uma rua sem saída que no final todos encontram uma porta;
Sou essa porta que todos encontram, mas que quase ninguém abre.
Minha alma é o carnaval que ferve em dia de sol e que chora em dias chuvosos.
Sou barro batido cravado na pele de quem busca amar;
Meu amor são cinzas que se vão ao longo do mar.
Sou um corpo despido coberto por vestes rasgadas.
Sou as estrelas que brilham sem parar e o tempo que ofusca parar.
Sou amarelo, verde e azul, mas vermelho e branco me fazem respirar.
Sou inocente bocejando às setes horas em pleno altar.
Minha respiração é calcificada quando ando às margens do rio.
Sou amante daquele rapaz e namoro a poesia.
Sou vísceras despedaçadas despedaçando os fios que cortam as ruas.
Eu sou pobre, poeta, amante e apaixonado.
Sou um filho prosódico alucinando entre parágrafos.
Sou chama que queima no paiol molhado pela chuva.
Minhas paredes dizem o que não sou, mas quem eu era.
Sou tudo isso, muito mais e nada menos que foi dito.