“ SOU E NÃO SOU ”

Sou rocha endurecida,

Que tenta vencer o tempo,

Sou a estatua esquecida,

Que se desgasta ao relento!

Sou água da cachoeira,

Que corre sem ter parada,

Sou força da macieira,

Que se robustece florada!

Sou aquela curva do rio,

Que esconde sua beleza,

Sou um torrão no estio,

Ressequido de tristeza!

Sou o bote da serpente,

De olhar fixo na presa,

Sou enigmática semente,

Que não deriva nobreza!

Sou o amargor da língua,

Balbuciante a bradar,

Sou o chuvisco que pinga,

Para a plantinha molhar!

Sou indolente guerreiro,

Nas peripécias da vida,

Com a flecha sou flecheiro,

Sem abordagem perdida!

Seu igual o pulo do gato,

Que surge se precisar,

Sou como humilde regato,

Pelos vales a versejar!

Sou frágil mais sou forte,

Luto do começo e o fim,

Sou o sul e também norte,

As respostas não e sim!

Sou a gema amarelinha,

Que vive sempre escondida,

Sou o azedo da farinha,

Vindo da massa aquecida!

Sou a alegria do contente,

A tristeza do desanimado,

Sou de trás e sou da frente,

Escolto de ambos os lados!

Sou dos relógios as horas,

O ponteiro dos segundos,

Sou a lágrima que aflora,

Nos olhos de moribundos!

Sou a pena dos poetas,

A percorrer cada linha,

Sou o sustento e a oferta,

Do vento brisa marinha!

Sou leve também pesado,

Quem se foi e quem ficou,

Sou o discurso elaborado,

Das pessoas o pensador!

Sou do amor à ternura,

Do perdido a esperança,

Sou do sábio a loucura,

Do tímido a confiança.

Sou do gênio a inteligência,

O odor de flor que inebria,

Sou do delirante a cautela,

Da claridade sou o dia!

Sua uma estrela cadente,

Riscando o céu como a luz,

Sou os elos das correntes,

Produtos dos que produz!

Sou humano não eterno,

Menor grão areia na praia,

Em pleno verão sou inverno,

E o brilho de um sol que raia!

Sou do menor a grandeza,

A luz que nunca brilhou,

Sou da flora natureza,

E tudo que ainda não sou!

Cosme B Araujo

28/07/2021.