Daniel
Daniel Daniel
O mundo lhe negou a luz
Cego velho pescador
Nativo da bela ilha
Deficiente visual
Solitário em seu barco
Sai para pescar
Tece redes com fios de pneu
Por horas intermináveis
Paciência interminável
Que só a escuridão pode ofertar
Mas seus olhos miram o céu
E seu universo é multicolor
Entre vultos e reflexos
Ele empurra a canoa no mar
E sai pra pescar
Pesca peixes e sonhos
De um mundo a desvendar
Ele que nunca saiu desse mar
Nunca esteve no continente
Nunca aprendeu a rezar
Perguntei a Dona Vivian
Se Daniel era louco por sair pra pescar
Que nada ela disse
É cego mas é bicho do mar
A fogueira assava as garoupas na areia
Esse dia pesquei demais
Os rostos eram vultos flamejantes
Dispersos na escuridão
Feito o mundo de Daniel
Caiçaras celebrando meu peixe
O peixe não é meu é do mar
É da Baía dos Castelhanos
Ou filho dos olhos de Daniel
Comemos com a mão
Rimos com os olhos
Foi quando eu disse a Dona Vivian
Daniel não é louco nem cego
Nem bicho do mar
Daniel é o mar