Bacia Hidrográfica
Serpenteio em canos sob as ruas da cidade
ao lado de dutos de esgoto que desaguam em mim.
Sou um depósito de lixo,
a descarga de homens e mulheres,
o vômito da cidade,
a bosta saída do cu dessa gente suja.
Eu sou aquele jogado à sarjeta que a chuva empurra para entupir o bueiro.
Eu sou o lixo tirado da lata por um vagabundo de trapos e jogado ao mato e do mato eu caio;
caio do mato beira-rio ao córrego,
e sigo debaixo de ferozes automóveis.
A sacola, a garrafa, o entulho interrompendo meu fluxo podre e canalizado que corta a cidade sob o asfalto.
Tenho o cheiro das caixas de gordura exalando das minhas estranhas entranhas.
Sou amigo dos ratos e das baratas,
Sou a veia que pulsa escondida.
Vem...
Vem...
Vem, oh verão, vem!
Me abasteça com suas águas celestiais!
Me levanta, me enfureça, me faz eu me mostrar.
Enfurecido me ameaço nas ruas,
levo gente,
levo carro,
me insinuo dentro das casas,
invado essas casas e destruo a mobília de MDF,
levo as pessoas em minhas enxurradas.
Sou eu mesmo essas águas turvas,
esses córregos,
esses ribeirões.
sou o Barroca,
sou o da Serra,
o do Leitão,
o Acaba Mundo.
sou o Clemente,
o Olhos d'Água,
o Olaria.
Sou o do Barreiro,
o do Jatobá,
o do Cercadinho,
o do Tejuco.
Sou o Arrudas.