O mais nada era
O dia despediu-se da noite,
suavemente.
A tardinha enfeitou-se com fios de sol
e pôs-se à janela
vendo o horizonte que se diluía.
Um barco lento afastou-se
do cais de madeira,
estremecendo a água.
No alto do céu, acordou a primeira estrela.
O dia suspirava
como flor que abrisse a vez primeira
e recebesse a abelha
zumbindo na misteriosa troca
de pólen e carícia.
A vida adormecia, redonda e pura.
Ontem já fora e o amanhã era
dulcíssima promessa.
Lisboa, 21/12/2004