MAMA DEUS
Minha mãe tanto fez
E hoje a vejo na cama
Feito uma carne morta...
Com o jejum batendo a minha porta
Seus choros dizendo que não era assim
Que vivia bem sem doenças...
E haja choro de novo sem decoro emocional
Doenças e remédios prisões e aprisionados
Medos constantes seu corpo geme e tremelica
Nada de luzes apagadas sem escuridão de pelicas
Geme e tardiamente dorme a peso de remédios
Remendos e ela ali mais afogada dentro de si
Exageradamente demente mais ainda consciente
Remédios e remédios se avolumam
E ela descontinuada da vida
Tantas batalhas
Tantas gralhas
Tantos espíritos sugadores
Anjos passam e a amparam
Mais não suplantam seus limites
E ela ali deitada incólume
A peso de remédios controlados
Seus dedos inquietos
Suas mãos beligerantes
Suas pernas inquietas
E o medo este abominável ser roedor da mente
E tudo flui e passa deteriorando a vida
Enferrujando a máquina leniente
Enrestando a mácula de ser livre
Ela respira todo o ar que me deu
E eu não posso dá-la o parto que me deu
A vida é esta fresta
Para alguns uma fresta
Para outros uma brecha
Para mim minha mãe
É muito mais do que o grito que chorei
Quando nasci daquela dor aonde a boca não fecha
É o infinito que ecoa dentro de um Deus
Que sequer eu imaginava existir
Que dentro dela vivi
Como nas águas amnióticas que me absorveu
Ela me pariu e nestas águas agora choro
E mesmo que chorasse um rio Jordão inteiro
Jamais pagaria a ela a vida que ela me deu...