MAMA DEUS

Minha mãe tanto fez

E hoje a vejo na cama

Feito uma carne morta...

Com o jejum batendo a minha porta

Seus choros dizendo que não era assim

Que vivia bem sem doenças...

E haja choro de novo sem decoro emocional

Doenças e remédios prisões e aprisionados

Medos constantes seu corpo geme e tremelica

Nada de luzes apagadas sem escuridão de pelicas

Geme e tardiamente dorme a peso de remédios

Remendos e ela ali mais afogada dentro de si

Exageradamente demente mais ainda consciente

Remédios e remédios se avolumam

E ela descontinuada da vida

Tantas batalhas

Tantas gralhas

Tantos espíritos sugadores

Anjos passam e a amparam

Mais não suplantam seus limites

E ela ali deitada incólume

A peso de remédios controlados

Seus dedos inquietos

Suas mãos beligerantes

Suas pernas inquietas

E o medo este abominável ser roedor da mente

E tudo flui e passa deteriorando a vida

Enferrujando a máquina leniente

Enrestando a mácula de ser livre

Ela respira todo o ar que me deu

E eu não posso dá-la o parto que me deu

A vida é esta fresta

Para alguns uma fresta

Para outros uma brecha

Para mim minha mãe

É muito mais do que o grito que chorei

Quando nasci daquela dor aonde a boca não fecha

É o infinito que ecoa dentro de um Deus

Que sequer eu imaginava existir

Que dentro dela vivi

Como nas águas amnióticas que me absorveu

Ela me pariu e nestas águas agora choro

E mesmo que chorasse um rio Jordão inteiro

Jamais pagaria a ela a vida que ela me deu...

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 24/12/2020
Código do texto: T7142819
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