MARTÍRIO
Ao longo da estrada deserta
A pombinha caminha incerta
Deixando seus rastros no chão;
Desgarrada da sorte cambaleia
Com as asas arrastando na areia
Trilhando os caminhos da solidão.
Segue frágil a pobre peregrina
Parecendo uma exótica dançarina
À procura de um barreiro qualquer;
Depois de vencer toda distância
Encontra um buraco sem substância,
Sem uma gota de água sequer.
Já cansada da longa caminhada
Tenta voar desenfreada
E cai com o bico aberto de sede;
Tão logo se vê perdida e desgraçada
Entre os garranchos, embaraçada
Como um peixe dentro da rede!
Se bate desnuda e ensangüentada
Manchando de sangue a garranchada
Sem a mínima chance de salvação;
Num instante silenciosa e desvanecida
Se entrega ao martírio por vencida
Parando de bater seu coração.