As quatro estações
Primavera
Eu vou e peço ao tempo que seja só primavera,
que não caia a folha verde,
nem tampouco a folha velha,
e que as cores, ainda de vez, venham saltando os muros,
amontoando os cheiros aos jardins.
Borboletas bailando asas à granel!
No reboco da rosa, o espinho travoso,
mas as pétalas devem ter o gosto da cana-caiana.
Verão
Mas há um quarto de tempo que gira e muda a estação,
e o verão chega quarando os lírios,
sorrindo os varais,
fincando o sol nas bodegas, nas bordas e nos coqueirais.
Mas eis que o pôr do sol, sumo das tardes,
chega a nos roubar as cores.
E as aquarelas despedindo-se do sol
levam os dias embrulhados num farol.
Outono
Daí, num repente, o vento em abre-alas
traz mil folhas como alegorias:
outono fruto que te calda a boca ao pé,
madura o vento verde e volta a ser maré;
teu beijo é doce até se chupas um limão,
és sempre a minha doce fruta da estação.
Inverno
Mas o inverno vem fungando os cheiros,
escorrendo abraços entre os cotovelos,
chinchando o xuá da chuva
no chacoalhar do trovejo;
E vou e peço ao tempo que seja só primavera,
não que eu não goste da chuva,
é que as pétalas devem ter o gosto da cana-caiana.