Fome de verbo
Me intriga nessa madrugada, daqui de dentro dessas caixas geométricas, vendo tudo quadrado, um horizonte apático, facetado por concretos pungentes. Estes ruídos de máquinas e motores incessantes, azucrinando meus tímpanos. Esse odor de óleo e nuvens de alumínio que adentram as narinas. E o fato destas pessoas angustiadas com a orquestra dos grilos e cigarras, que assim invisíveis ressoam nas noites. Pernoitam os meus vícios de linguagem, que sem sentido figurado algum, me intriga. Me irrita o amor à todas as poetas mortas, abaixo de 7 palmos de palavras ditas e não lidas. Porque assim, como o sono 10 minutos antes do despertador tocar... assim como o prazer que sinto em esperar a tarde cair completamente sob a noite, pra acender as luzes da casa... assim a saciedade em ter teus pêlos em minha boca e tua carne em minhas unhas... és o lambuzar dos vermes comendo os poemas que não escrevi, mas que em meus tecidos e glóbulos vermelhos coalhado, camadas de pele, carne, poros, estão impressos e impregnados, tudo o que não disse, com os pés fincados na terra. E roendo todos os ossos, eles se alimentam das crônicas do que fui em fúria.