Meio do mato

Entrego o brilho do meu olhar

Pro horizonte que me encarar

E que nada haja pra obstruir

A vista do pôr do sol a se exibir

Causa-me a mesma sensação

Fonte inesgotável de inspiração

Assistir o sol a nascer

E com ele minh'alma alvorecer

É pra mim a definição de paz

E corro sério risco de não ser capaz

De amar qualquer outro lugar

Onde eu não possa pelo mato andar

No sossego ou no vento forte

Eu viajo e indago minha sorte

E não encontro outra saída

Que não desejar aquela vida

Nas paredes frias do meu apartamento

Enclausuro todo o meu tormento

De levar uma vida vaga e tão corrida

Numa maratona só com ponto de partida

Não enxergo a faixa de chegada

E com o tempo já não vejo mais nada

E me convenço que já não é possível

Viver correndo atrás do inatingível.

Não assisto a trajetória do sol

Nem sinto o vento passear no lençol

Quando a chuva cai, eu não escuto o telhado

E nem a lua cheia deixa meu quarto iluminado

Não vou mais correr, eu quero poder andar

Nas trilhas do mato ou pelo pomar

Certificar que na nascente lá na frente

Voltou a brotar água, virou corrente

E ao cair da noite, poder olhar pro céu

Me banhar de negritude deitada ao léu

Enquanto descubro novas constelações

Exorciso todas minhas preocupações

E dentro do silêncio típico e medicinal

Me curo inteira de qualquer mal

Entendo se ninguém me entender:

Mas é no simples e no pouco que está meu maior prazer.