Vidas Secas Vidas
Nesses campos de pastagens ensolaradas, prolongadas
Eu, abstrato ser, osculo os ventos frondosos em meu rosto
Vejo na limpidez dos céus e no amargor do gosto
O sabor nocivo das águas turvas, alagadas.
Ao longe no firmamento tosco, arquejante, agreste
A tristeza nebulosa da seca, da fome, da morte
Ronda qual ave negra peregrina entre o sul e o Leste
Numa dolorosa volúpia de medo, oração, milagre, sorte.
E eis que observo nas sombras de árvores fantasmas
Siderais artes inomináveis, estranhas, soturnas, cruciais
Cravadas no peito pueril de corpos tísicos e lívidas almas
Nas dores murmurantes de perdas cálidas, frias, mortais.