TERRA, ESSA MULHER QUE ENGRAVIDA




A Terra,
às vezes maltratada,
às vezes sofrida,
sabe-se responsável pela vida.
Sabe-se mulher e,
em sua eterna labuta,
bem ou mal amada,
às vezes santa,
às vezes prostituta,
insiste na luta
em sua missão materna.

Ai, também sabendo-se fértil,
dá umas voltinhas, roda a bolsinha
e, volta e meia, engravida.

O "homo sapiens" surge na esquina
para explorá-la, agredi-la ou... amá-la.
A Terra o escuta, sente, sofre, grita e fala.
O predador jaz insensível ao seu clamor.

Somente o homem agricultor, lavrador,
jardineiro, semeador, cultivador...
é quem a livra de todo o mal,
ao pressentir seu atraente cio sensual
seguido dos "ais" de seus ciclos naturais
de fecundidade e de fertilidade.

Viril e prazerosamente, o semeador
a acaricia com sua enxada
ou com seu arado manual.

Nesse ato, mesmo sangrando-a,
ao perfurar o seu solo delicado,
ali semeia a boa semente escolhida.

Ovulação, gestação, germinação,
limiar da vida... gravidez...,
científicos termos afins
das fases em que a plantinha
milagrosamente aparece e cresce.

Forma-se, assim, em seu útero
- ventre ou roçado ou jardim -
o mais perfeito e bendito fruto.

Em estado interessante, meses adiante,
a Mãe Terra dá à luz o seu rebento,
que aguardava esse momento
mergulhado em confortável escuridão.

Rebento que é sal e pão da vida,
transformado em bem-aventurada
e abundante produção.

Não há produção sem boa fecundação.

E o agricultor que a fecundou
amarra o varal do seu roçado
com o mesmo cordão umbilical
com o qual um dia se viu enlaçado.

(fernandoafreire)

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Para o texto: O cheiro do milho (T6970922)
De: Alque
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Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 10/06/2020
Reeditado em 25/06/2020
Código do texto: T6973271
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