BALADA DOS LÍRIOS
Meu lírio branco, lírio branco,
Meu lírio de encantamento,
Tu és a flor do meu encanto
E do meu enamoramento.
Tu és a alma da natureza,
E dos seres humanos também,
Ninguém como tu tem beleza
Nessa imagem de paz e bem.
Meu lírio azul, lírio azul,
Meu lírio arrebatador,
Tu és a flor de norte a sul
Fogueira acesa do meu amor.
A tua cor é a cor celeste
Projectada no mar risonho
Toda a terra de ti se veste
No colorido do meu sonho.
Meu lírio rubro, lírio vermelho,
Lírio encarnado encantador,
Teu fiel rosto, em claro espelho,
Corre p´ las águas do meu suor.
Tua energia, caldeada e forte
Na cruel hora das ansiedades,
Tem a cor da paixão e da sorte
Por entre enganos e vaidades.
Meu lírio roxo, lírio roxo,
Meu lírio e minha semente,
Num sentimento vão e frouxo
Quero refrescar minha mente.
Teu colorido intenso e vário
Faz memória e assentimento
De Alguém qu´ no alto do Calvário
Deu a vida para salvamento.
Meu lírio rosa, lírio rosa,
Meu lírio de mil carinhos,
És a doce flor glamorosa
Que me faz olvidar espinhos.
Não os tens e nem os desejas
Porque és bondade e és virtude,
Neste jardim despertas invejas
P´ lo teu sorrir que dá saúde.
Meu lírio cinza ou matizado,
Irmão menor da cor laranja,
Mudas o tom conforme o fado
Num fluir de nervos em franja.
Entre cores sonhas ser dono
Numa ambição feita quimera,
Esperas agora o outono
Ou, quem o sabe, a Primavera.
Meu lírio da cor do bronze,
Da cor lilás e do arco-iris,
Feito peregrino, feito monge,
À sombra de opaca matriz.
Lírio dourado, alma de sol,
Tu és meu irmão e meu canto,
Minha oração em arrebol
E lenitivo do meu pranto.
Meu lírio pequeno, lírio grande,
Meu lírio da minha lapela
Quero-o comigo, Deus o mande,
Para ver o mundo desta janela.
Da minha janela vejo lírios,
Desde o Caldeirão ao Gerês,
São flores belas e são delírios
Em sagrado chão português.
Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA