O MEU PASSEIO HOLÍSTICO
Dei hoje comigo a deambular
Com os pássaros de permeio,
Cumprindo, para purificar,
O meu holístico passeio.
Dialogando co´ a fresca brisa,
Escutei a alvéola cantadeira,
E numa emoção indecisa
Sondei minha lira caminheira.
Senti as palavras do arvoredo
Que desciam pela colina
E trauteei, muito em segredo,
Uma balada vespertina.
E, nem é cedo, nem é tarde,
Antes de uns banais afazeres
Os meus olhos, em fino alarde,
Olharam a S. ra dos Prazeres.
Ela, no seu nicho solitária
Sustendo o filho em seus braços,
Fez-se comigo solidária
Guiando meus inibidos passos.
À volta, num campo de lazeres
Sem a azáfama acostumada,
Que dirá a S. ra dos Prazeres
Do silêncio da criançada?
As jogadas estão desactivadas,
As escolas num vazio imenso;
Nos lares, penando exiladas
As crianças, em silêncio denso.
Calou-se até o rouxinol,
Não oiço os melros e a cotovia,
Sobre mim, envergonhado sol
Desafia-me pra poesia.
Poesia sois vós, Senhora minha,
Aqui, neste Nicho acantonado,
E eu ali, na minha casinha
Num louco exílio confinado.
Que nos sirva de penitência
Este mau “vento” passageiro,
São os estigmas da existência,
A nossa e a do mundo inteiro.
Passei no meu parque sombrio,
Espreitei ao de leve o pasquim
Mas, antes que assolasse o frio,
Regressei à morada de mim.
Neste meu passeio holístico,
Acicatado pela calma
Temperei, em ar um pouco místico,
A triste aridez da minh´ alma!
Frassino Machado
In INSTÂNCIAS DE MIM