Atarantado

Era um belo cavalo tordilho vinagre!

De marcha macia,

De trote trabalhado,

De galope acelerado,

De nome Atarantado.

Seu dono o vestia

Com toda a tralha bonita!

Parecia um lorde

A caminho do baile.

Mas a moça atrevida,

De vestido e descalça

Dispensava o equipamento

E montava no pelo.

Saía doida, a galope,

Subia e descia serras,

Atravessava riachos,

Cortava pastos e várzeas,

Afundava nos lírios-do-brejo.

O cavalo obedecia...

Entendia aquela alma

De liberdade e loucura,

De desejo e desespero.

E no sol quente do dia

Suados e desembestados

Lá iam os dois na estrada...

Estrada boiadeira,

De marcas do gado passante,

De sulcos que a enxurrada machucou,

De cheiro de mato e de estrume,

De sombras arbóreas refrescantes.

Ao passar pela gameleira umbrosa

Ela cochicha para fazê-lo mudar o passo,

E seu caminhar agora é lânguido,

Preguiçoso, indolente...

O cansaço os freou...

O galope os deitou

Sob a árvore folhosa.

Um pouco de história:

Esse cavalo existiu de verdade. Era do meu sogro, um baiano arretado. Não gostava que ninguém o montasse. Mas fazia essa concessão para a amazona mineira. E era eu a galopar, subindo e descendo os morros. Atarantado tinha um passo de veludo, mas muita vontade de correr... Lembro-me que quando apeava, os braços ficavam trêmulos pelo vigor da doma e o coração vinha à boca. Doces lembranças... A saudade engoliu meu sogro, Atarantado e a moça que foi amazona.

Cassia Caryne
Enviado por Cassia Caryne em 23/01/2020
Reeditado em 23/01/2020
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