Atarantado
Era um belo cavalo tordilho vinagre!
De marcha macia,
De trote trabalhado,
De galope acelerado,
De nome Atarantado.
Seu dono o vestia
Com toda a tralha bonita!
Parecia um lorde
A caminho do baile.
Mas a moça atrevida,
De vestido e descalça
Dispensava o equipamento
E montava no pelo.
Saía doida, a galope,
Subia e descia serras,
Atravessava riachos,
Cortava pastos e várzeas,
Afundava nos lírios-do-brejo.
O cavalo obedecia...
Entendia aquela alma
De liberdade e loucura,
De desejo e desespero.
E no sol quente do dia
Suados e desembestados
Lá iam os dois na estrada...
Estrada boiadeira,
De marcas do gado passante,
De sulcos que a enxurrada machucou,
De cheiro de mato e de estrume,
De sombras arbóreas refrescantes.
Ao passar pela gameleira umbrosa
Ela cochicha para fazê-lo mudar o passo,
E seu caminhar agora é lânguido,
Preguiçoso, indolente...
O cansaço os freou...
O galope os deitou
Sob a árvore folhosa.
Um pouco de história:
Esse cavalo existiu de verdade. Era do meu sogro, um baiano arretado. Não gostava que ninguém o montasse. Mas fazia essa concessão para a amazona mineira. E era eu a galopar, subindo e descendo os morros. Atarantado tinha um passo de veludo, mas muita vontade de correr... Lembro-me que quando apeava, os braços ficavam trêmulos pelo vigor da doma e o coração vinha à boca. Doces lembranças... A saudade engoliu meu sogro, Atarantado e a moça que foi amazona.