Farelos de sonetos

(Dedico à poetisa Maísa Silva)

Segui a canoa da beira do rio
enquanto ela descia lentamente a corrente da maré alta,
ao ritmo das suaves remadas...
E dei de cara, nessa volta, com a noite estrelada,
noite alta em que confio...
Remo de cedro, canoa de cedro
e eu medrando até onde ia aquela canoa naquele desafio...
Ia no rio a dois nós num ritmo que parecia sem volta...
A canoa seguia espalhando
farelos de sonetos, recém mastigados,
mostrando que a moça
estava se deliciando dos sonetos e da beira do rio...
Navegando aquela canoa, num compasso que não destoa,
consumia dos seus baús, onde repousavam até sonetos vis,
os mais lindos sonetos dos que já vi...

O compasso da poesia e o rumo da canoa não destoam
mesmo quando inverte a maré
com toda sua lógica ribeirinha à toa...

Quando cai a madrugada, beirando o arrebol,
as estrelas da manhã se despedem
e, nesse tempo, a poetisa revela o seu segredo:
coleta com as mãos, ao seu baú de sonetos,
um punhado de estrelas,
as mais brilhantes jamais colhidas na via láctea,
para criar seus novos versos, poemas e poemetos...